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sábado, 15 de outubro de 2011

Indignação



Não, não vou falar do discurso do PM.
Não me interessa referir que no ano que vem acabamos todos sem subsídio de férias, sem subsídio de natal e, provavelmente, a rezar para podermos ter emprego daqui a dois anos.
Também não vou falar da raiva que me dá continuar a ver por aí alguns tótós a passear sem fazer nada enquanto outros têm de dar no duro para sobreviver, e mal conseguem.
Também não me apetece comentar certas declarações que ouço na comunicação social e que posso classificar de malevolentes, manipuladoras, de má fé, ou, pura e simplesmente, ignorantes.
Nem sequer vou falar do tempo que parece que se virou contra nós e continua com esta atmosfera de verão, com temperaturas de 30º, a gozar, literalmente, com quem trabalha. A gozar com quem está a trabalhar, depois de não ter tido férias, a gozar com os bombeiros e a gozar com metade do país que neste momento começa sofrer de falta de água.
Não, também não vou falar da falta de vontade de trabalhar que por vezes me assola...

Hoje apetece-me falar de indignação.

Não sei bem porquê mas hoje acordei indignada. Devia ser do estômago que me doía, não percebi muito bem se por causa do jantar, se das notícias que recebemos nos últimos dias. Ou da excitação. Viver em contínua excitação pode causar danos no estômago, na cabeça e sabe Deus onde mais. E temos imensos motivos para viver em excitação. Antigamente, quando viviamos acima das nossas possibilidades e queriamos um pouco de excitação, podíamos fazer um safari ou visitar a faixa de Gaza. Agora basta esperar pelas declarações do primeiro ministro (ou outro qualquer), ir às compras ou pensar no fim do mês, para o coração nos querer sair pela boca.

Parece que hoje deixamos que isso acontecesse - que o coração nos saísse pela boca.

Em quase mil cidades em todo o planeta milhões de pessoas saíram à rua para dar voz ao coração.
Das muitas declarações que ouvi, a maior parte delas eram mesmo isso - a voz do coração.
Mas entre elas algumas diziam aquilo que nem todos têm a coragem de afirmar - a invisibilidade do inimigo que se defronta nestes tempos estranhos.
Nos anos 60 surgiu a ideia perversa do controle do poder político pelos senhores do poder financeiro e económico. Chamaram-lhes as "eminências pardas". Apesar do termo, suspeitavam-se nomes e rostos, sussurrravam-se entidades. Mas hoje a realidade é mais virtual que real e é difícil apontar armas e definir um inimigo. Claro que o conhecemo - as agências de rating, as instituições bancárias mundiais, as holding, as enormes empresas sem rosto. Mas mal sabemos o que são e estamos todos a aprender como defrontá-lo.
Mas para já é urgente dar voz à indignação.


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