quinta-feira, 7 de abril de 2011
Chegou o verão?
Tenho a confessar que me tenho deitado tarde, muito tarde, demasiado tarde... Infelizmente não tem sido por andar na "noite" mas pelo volume desumano de testes em cima da mesa.
Quando se dorme pouco as coisas à nossa volta começam a adquirir outra textura e o cérebro começa a entrar em autogestão. A sensação não é má de todo, mas se a realidade não contribui para nos manter com os pés assentes então estamos mal.
Segundo parece - e parece bem - estamos a ser assolados por uma nuvem de poeira vinda do Sara, transportada por ventos fortes, insensível ao facto de a primavera ter chegado com ar de veraneio e a areia do deserto não fazer parte do programa.
O facto é que desde 3ª feira, altura em que a ameaça do FMI se tornou mais palpável e as agências de rating começaram a competir entre si para ver qual conseguia classificar pior a República, vivemos imersos numa atmosfera amarelada que não deixa ver o céu, nem o sol, nem o mar, nem as árvores do pinhal do vizinho. As cores esbatem-se e reduzem-se a uma tonalidade que só por si sugere calor. E, claro, traz calor, um calor abafado e pesado, que deixa a boca seca e o nariz a pingar.
Ao contrário do que é costume, o litoral apresenta temperaturas mais altas - ontem por aqui registei 32º em Penafirme... mas para começar o dia estavam logo 26º às sete da manhã.
Os últimos dias têm sido terríveis - bastava ouvir o noticiário.
Começando pelo horário de rega do estádio da Luz, passando pela reunião dos bancos e pelos caixotes do lixo do capitalismo, e terminando no discurso do PM, tudo justifica a nuvem de pó que nos cobre.
Olhando para a atmosfera densa e poeirenta que nos rodeia ocorrem-me questões e metáforas variadas, a saber:
...será verdadeiramente este o tempo da nossa travessia do deserto?
...será isto o início de uma série de pragas que se vai abater sobre nós como castigo por andarmos a eleger os governantes errados?
...será que algum ser superiormente entendido considerou que o melhor será ocultar-nos num manto de poeira e enviar-nos para aquela Twilight Zone onde ficaremos a vogar em penitência até pagarmos as dívidas todas até ao último cêntimo?
...será que vem aí D.Sebastião para nos salvar das agências de rating e do FMI (faz sentido, ele deveria vir do deserto...)?
De todas as hipóteses a primeira é com certeza a mais autentica.
Este é o tempo da travessia do deserto.
Será que vamos chegar ao outro lado? Será que há outro lado?
É que me parece que já começamos esta travessia há muito tempo, não tínhamos era ainda percebido... A areia só veio para confirmar as suspeitas. Basta ver o timing...
Mas se olharmos bem à volta havia indícios.
Como esta casa, erguida das areias, aparentemente inacabada e abandonada à sua sorte.
Como a urbanização megalómana, um pouco mais à frente, onde os cortinados das janelas são cartazes onde se lê Vende-se. A quem?
O que me irrita é que os únicos que sobrevivem bem no deserto são os camelos... pelos vistos sobrevivem e reproduzem-se.
Estamos perdidos!
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