Campus Stellae. Campo de Estrelas.
Compostela. Foi durante muitos anos o meu lugar mítico, o sítio onde sonhava ir em busca de mim própria e de todos os mistérios que a vida encerra. Ainda é.
Não sou uma praticante da fé mas não sou uma pessoa sem fé - a fé encontra-se em pequenas coisas, em pequenos actos, em lugares e pessoas, em momentos únicos que nos trazem a crença de que "há muito mais no céu e na terra do que sonhar pode a nossa vã filosofia" (Shakespeare dixit!).
É só olhar um céu cheio de estrelas.
Durante anos fizemos uma viagem regular a Santiago.
Depois fomos andando por outras paragens e encontrando outros lugares de peregrinação onde se respira o mesmo mistério e a mesma busca de resposta. Como Rocamadour.
Em lugares como estes sente-se a presença dos homens, não só de hoje, mas de épocas longínquas, não dos que viajam como nós, comodamente instalados, mas daqueles que "fizeram o caminho" numa prova de fé, de coragem ou de penitência, por amor ou por desespero. Em sítios como estes sente-se verdadeiramente o pulsar da humanidade e isso dá-nos verdadeiramente a consciência da nossa dimensão e da nossa pequenez.
Este ano voltámos a Compostela.
Pelo lugar, pelos amigos no Camilo, pela paz que nos devolve.
Também pela alegria, pela música, pela tuna a cantar os mesmos eternos hits, pelas gentes nas ruas.
Sabemos que quem ali vai, não vai, na maioria dos casos, em busca de coisa alguma.
Talvez dos souvenirs, do Santiago Matamouros (coitado!), da concha da vieira que sobrou do menu do restaurante do lado.
Mas continua a encontrar-se ali, antes da chegada das multidões, uma luz e um silêncio extraordinários.
E no meio das gentes, os grupos que chegam a pé e de bicicleta, cantando de alegria porque ali estão, devolvem-nos a imagem de tantos outros que ao longo dos séculos ali chegaram, cantando cheios de igual alegria e fé.
E é essa ligação através dos tempos que me leva ao fascínio de Compostela - ao olhar as imagens das colunas imagino os milhares que as olharam antes de mim, ao passar nas ruas estreitas imagino outros passos ecoando nas arcadas, ao inclinar-me perante a coluna da entrada sinto-me parte de uma humanidade inteira que continua em busca de respostas para perguntas que nem sequer conhece.
E à noite, na praça da Catedral (Obradoiro não é o meu nome favorito), o silêncio enche-nos.
Quando olhamos o céu já não vemos as mesmas miríades de estrelas que outrora a escuridão permitia ver - mas dentro de mim há uma certeza: para lá do céu enevoado e da luz que nos cega elas continuam lá, como sempre estiveram, a olhar para nós e à espera que façamos a pergunta correcta.
Só então nos darão a resposta.
Por isso este ano voltámos a Compostela.
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